sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Uma pérola da música portuguesa



> José Mário Branco / "Inquietação"
convidado do Jantar Tertúlia de 14 de Janeiro

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Uma pérola da música latina



> Joaquin Sabina / Joan Manuel Serrat

sábado, 24 de janeiro de 2009

A poesia está na rua

Rosa selvagem

Rosa selvagem, sem dono,
Raínha, que não tem trono,
És memória de um passado.
És flor agreste e selvagem,
Da minha vida passagem,
Poema de um lindo fado.

És memória que ficou,
És sonho, que não passou,
És em mim uma tatuagem.

És recordação mui doce,
Que se sonho apenas fosse,
Não passava de miragem.

>Filipe Luar

Uma visão "politicamente incorrecta"...

Matem a morte


António Pedro Dores*

Como é que uma manifestação a favor da justiça e da paz, denunciando o assassínio de um jovem de 14 anos por um polícia, pode tornar-se no motivo de um ferimento de uma agente da polícia por um dos manifestantes?


Da mesma maneira que os comentários na Internet às notícias comparavam os traumas desenvolvidos pelos roubos de automóveis com os causados pela morte de um jovem, como se os primeiros justificassem os segundos.


A natureza humana é de uma enorme capacidade de violência. Veja-se o que foi capaz de fazer com o planeta e com as guerras, por exemplo. O que não quer dizer que a natureza humana seja hobbesiana, do todos contra todos. Ao contrário: para sobrevivermos à nossa própria violência precisamos de apoio social dos nossos próximos, daqueles que sejam capazes de nos reconhecer como gente. Com as nossas qualidades e com os nossos defeitos.


A sociedade organiza-se para reconhecer as qualidades (às vezes inexistentes) de alguns – vejam-se, por exemplo, as práticas de auto-elogio dos poderosos para aumentarem o prestígio dos seus grupos de influência – e para salientar os defeitos (às vezes induzidos pelas profecias que se auto-realizam) de outros – os excluídos.


O Estado, esse, informado pelas doutrinas políticas e de direito, tem obrigações de civilização: não discriminar, defender os direitos humanos, assegurar acesso ao Direito, assegurar a liberdade de expressão, etc. Porque o Estado é bonzinho? Não, pelo contrário: porque o Estado depende da capacidade que tenha de pacificar a sociedade. Quando não cumpre essa função perde a legitimidade e a justificação da sua própria existência – bem lucrativa, como se sabe, para os seus beneficiários – e arrisca-se a ser alvo da violência que não foi capaz de conter.


Um exemplo quotidiano: quem declarou a guerra contra a droga foi o Estado, ou melhor a ONU e o conjunto dos Estados. Desde então um enorme mercado negro emergiu com tentáculos em toda a parte, incluindo nos corredores do poder. Quem não sabe onde se trafica? Porque é que a polícia não acaba com isso? Pura e simplesmente porque não está nas mãos da polícia fazer outra coisa senão perseguir o pequeno traficante que é oferecido à morte e respeitar o grande armazenista com influência corrupta suficiente para não ser apanhado. Nas prisões, onde a maioria dos presos está lá por causa da droga, oferecerem-se as doses que se quiser a quem puder pagar, sem que o Estado se sinta na obrigação de acabar com isso.


Sendo o Estado uma organização de gente, o que faz é auto-elogiar-se em permanência a dizer que faz tudo bem – e quando isso não acontece a culpa é de algum agente descontrolado que há que castigar. Acontece que os castigos previstos são desagradáveis: expulsão da profissão (que é, nas nossas sociedades, o tal apoio social que valoriza as nossas qualidades e minimiza os nossos defeitos, a que os sociólogos chamam identidade) ou até a multa ou a prisão (lugar onde todos os defeitos são valorizados ao extremo). E os amigos, colegas, preferem evitar que isso aconteça por solidariedade e também para impedirem o reconhecimento público de poder haver maldades ou defeitos nos campos sociais onde vivem.


A exclusão decorre do funcionamento social competitivo. Como os gorilas, gostamos de bater no peito sem mácula, atribuindo a outros – que queiram experimentar o mesmo gesto – o carácter provocador. Na verdade, o poder social é relativo e exclusivista. A democracia é, porém, um modo de distribuição do poder. De modo a minimizar a violência interna das sociedades e prolongar a estabilidade do poder e a segurança dos detentores do aparelho de Estado.
Qualquer manifestação, seja ela de professores ou de jovens, é sempre um risco para os poderosos. Mas também é uma necessidade para os manifestantes. O que acontece a seguir às manifestações (“Nós é que ficamos aqui!” – gritavam os jovens locais contra um partidário da partir para a violência) é sempre imprevisível. Todos os professores na rua, por si só, não fizeram recuar o governo – pelo menos no imediato. Seria coerente uma manifestação pela justiça e pela paz não ser causa de ferimentos, em especial em agentes da autoridade acusados de serem, eles próprios, abusadores da violência legítima. Os resultados, porém, decorrerão da capacidade de encaixe das partes envolvidas nos acontecimentos.



O que se viu na manifestação foi a reacção agressiva dos manifestantes ter-se dirigido contra a pose de suave confrontação de quatro polícias na portaria da esquadra, substituída depois do ferimento da agente de polícia pela simples presença (descontraída) do chefe da esquadra junto das grades, em diálogo com alguns jovens, à margem da manifestação.


A polícia, a menos que seja radicalmente incompetente, teria de ter informações seguras sobre o carácter e âmbito da manifestação: os jovens dos chamados bairros problemáticos estão fartos – e ainda bem para eles e para nós – de serem enxovalhados: de verem as suas características transformadas em defeitos (nomeada e simbolicamente a cor da pele) e os defeitos transformados em identidade colectiva. Pretendem – que bom! – reconstruir a sua identidade social, transformando-a numa boa marca, como agora se diz, à luz de exercícios já realizados a pretextos diversos (a Zona J tornou-se um mito do cinema português e a Cova da Moura tornou-se num percurso turístico).


Ao Estado, por seu lado, caberá afirmar a democracia: assegurar o direito de manifestação, a liberdade de expressão e reconhecer o diálogo como forma privilegiada de acomodar a emergência de novas identidades – de boas identidades – na sociedade portuguesa.
Há aqui riscos para o poder? A vida é um risco para o poder. Também para as crianças, como se viu no caso do jovem abatido. Agora os riscos podem ser maximizados, como quando os polícias se ofereceram aos manifestantes como alvos, em vez de dialogarem com eles ou de, como é normal noutras manifestações, organizarem a segurança da manifestação e assegurarem a liberdade de expressão.



Não, não. A responsabilidade da pedrada e do ferimento da polícia é da manifestação e do manifestante em concreto que lançou a pedra. Do mesmo modo que o assassinato do Kuku (do Angoi, do Tony, do PTB, do Tete, do Corvo) deve ser assumido por quem de direito. Não na lógica do roubo de carro pela vida de quem possa estar próximo dos culpados, mas na lógica de dar nomes positivos a jovens traquinas, rebeldes, provocadores, desorganizados, que só diferem dos filhos das classes dominantes por serem excluídos nas escolas, nos locais de residência, no acesso ao emprego, no acesso aos centros de diversão comercial, da imagem púbica sobre o que é a vida em Portugal actualmente.

*Sociólogo, Professor Universitário

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

As moscas mudam...








Versos do Oficial de Cavalaria João de Vasconcelos e Sá, lidos por ele próprio, em Évora, perante o Ministro da Agricultura de então (1933), Leovigildo Queimado F. de Sousa






Precisamos de merda

Porque julgamos digna de registo,
A nossa exposição, Senhor Ministro,
Erguemos até vós, humildemente,
Uma toada uníssona e plangente,
Em que evitamos o maior deslise,
Em que damos razão da nossa crise.

Senhor! Em vão esta província inteira,
Desmoita, lavra, atulha a sementeira,
Suando, até à fralda da camisa.
Falta a matéria orgânica precisa,
Na terra que é delgada, e sempre fraca;
A matéria em questão, chama-se CACA!

Precisamos de merda, Senhor Soisa,
E nunca precisámos de outra coisa.

Se os membros desse ilustre Ministério,
Querem levar o nosso caso a sério,
E é nobre o sentimento que os anima,
Mandem cagar toda a gente em cima,
Dos maninhos torrões de cada herdade,
E...mijem-nos também, por caridade.

O Senhor Doutor Oliveira Salazar,
Quando tiver vontade de cagar,
Venha até nós, solícito, calado;
Busque um terreno lavrado;
E, como Presidente do Conselho,
Esprema-se até ficar vermelho.

A Nação confiou-lhe os seus destinos?
Então comprima!...aperte os intestinos;
E, se escapar um traque não se importe:
Quem sabe se cheirá-lo, dará sorte?
Quantos nos porão as suas esperanças,
Num traque do Ministro das Finanças.

E quem já vive aflito e sem recursos,
Já não destingue os traques dos discursos.
Não precisa falar, tenha a certeza,
Que a nossa maior fonte de riqueza,
Desde os montados negros às courelas,
Provém da merda que despejamos nelas.
Precisamos de merda, Senhor Soisa,
E nunca precisámos de outra coisa.

Adubos de potassa, cal e azote!
Mandem merda pura de bispote.
E que todos os penicos Portugueses,
Durante, pelo menos, uns seis meses,
Sobre o montado, sobre a terra campa,
Continuamente, nos despejem trampa!

Precisamos de merda, Senhor Soisa,
E nunca precisámos de outra coisa.

Terras Alentejanas, terras nuas,
Desespero de arados e charruas,
Quem as tem, que as compra, que as herda,
Sente a paixão nostálgica da merda.
Ah! Merda grossa e fina, merda boa,
Das inúteis retretes de Lisboa!

Como é triste saber que todos vós,
Andais cagando sem pensar em nós!
Se querem fomentar a agricultura,
Mandem vir muita gente com soltura.
Nós queremos o trigo em larga escala,
Também nos faz jeito, a merda rala!

Venham todas as merdas...à vontade,
Não fazemos questão de qualidade,
Formais, normais, ou formas esquisitas,
E desde o cagalhão às caganitas,
Ou desde o negro poio, à dura bosta,
Que tudo o que for merda, a gente gosta.

Precisamos de merda, Senhor Soisa,
E nunca precisámos de outra coisa.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

"Não sou o único"

Helena Reis
nasceu em Moçambique, no ano de 1955. Fez uma licenciatura em Estudos Anglo-Americanos na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e concluiu um mestrado em Estudos sobre as Mulheres, na Universidade Aberta de Lisboa, em 2001, com uma tese intitulada Empreender no Feminino. Vive no Algarve, onde desempenhou diversos cargos de responsabilidade no âmbito da actividade turística e, actualmente, é docente na Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve. Ao longo desta biografia do seu irmão, o leitor descobrirá um pouco mais sobre a personalidade desta autora.


NÃO SOU O ÚNICO Editorial Presença, Julho 2007

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Conversar é preciso!

>É isso! O que é preciso é dar à língua, dizer coisas, regredir nesse caminho construído que nos faz ausentes. É desconstruír o rumo, é ousar dar novo fulgor aos afectos. E voar por aí, perdidamente, violando todos os silêncios, gritando à indiferença!